O que eu adoro em ti
Não é a tua beleza A beleza é em nós que existe A beleza é um conceito E a beleza é triste Não é triste em si Mas pelo que há nela De fragilidade e incerteza
O que eu adoro em ti
Não é a tua inteligência Não é o teu espírito sutil Tão ágil e tão luminoso Ave solta no céu matinal da montanha
Nem é a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas. O que eu adoro em ti Não é a tua graça musical Sucessiva e renovada a cada momento Graça aérea como teu próprio momento Graça que perturba e que satisfaz
O que eu adoro em ti
Não é a mãe que já perdi E nem meu pai
O que eu adoro em tua natureza
Não é o profundo instinto matinal Em teu flanco aberto como uma ferida Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que adoro em ti lastima-me e consola-me:
O que eu adoro em ti é A VIDA! |
Este foi poema foi lançado
no livro intitulado “O ritmo dissoluto”. Nele, é possível notar o uso do verso
livre, certa liberdade no tratamento de temas tradicionalmente poéticos, que
fazem parte da estética de Bandeira, como você observará agora pelo estudo
deste poema “Madrigal melancólico”.
No poema, “Madrigal
melancólico” existem elementos que se inserem numa tradição poética e que
rompem claramente com certos aspectos da tradição poética. Em relação aos
elementos voltados para a tradição poética podemos notar a repetição da
estrutura dos dois primeiros versos de cada estrofe “O que eu adoro em ti/Não é
a...”; outra elemento da tradição poética é a opção pelo madrigal para a
composição poética. Esta composição exprime um pensamento fino, galante, e que,
em geral, se destina a ser musicada; surgiu na Itália do século XIV e teve sua
época de maior difusão no século XVI; fala marcada pela galanteria afetada,
cumprimento lisonjeiro, galanteio. Além disso, está intimamente ligada ao tema
lírico-amoroso e tom melancólico que permeia alguns versos. Agora, o que rompe
literalmente com a tradição poética são os versos livres - sem métrica fixa e o número irregular de
versos nas estrofes.
No poema, o eu-lírico criou
um esquema argumentativo para exaltar a pessoa a quem se refere. Esse esquema
se evidencia por cinco estrofes, sendo que o eu lírico descarta uma série de
características positivas presentes na interlocutora para ressaltar o que nela
é ainda mais importante para ele: a vida. Ao descartar tais características, no
entanto, ele as enumera e expõe, permitindo que esses aspectos positivos sejam
observados. De certa forma a vida, aquilo que o eu lírico adora na
interlocutora, é a síntese de tudo o que foi descartado (e destacado) por ele.
Em cada estrofe, o eu lírico
destaca um assunto; 1ª estrofe: a beleza; 2ª estrofe: a inteligência; 3ª estrofe:
o que ela o faz recordar e a 5ª estrofe: o instinto maternal. Isto ressalta
atributos da interlocutora.
Vamos partir para uma análise mais profunda.
Nos versos a seguir “E a beleza é triste/Não é triste em si /Mas pelo que há nela /De fragilidade e incerteza” notamos que eles exprimem a ideia de
transitoriedade das coisas. Por boas que sejam (como a beleza), são frágeis,
terminam; além disso, são incertas, porque dependem da forma como se olha, de
um padrão estabelecido em certo momento e local. Já no verso “Ave solta no céu matinal da montanha” trata-se
de uma metáfora do espírito ágil e luminoso da pessoa a quem ele se refere. Ave
solta destaca a agilidade e a liberdade de pensamento; o céu matinal destaca a
luminosidade. Nos versos seguintes, “O que adoro
em ti lastima-me e consola-me:/O
que eu adoro em ti é A VIDA!” o eu lírico fica lastimado e consolado com a vida, por que a
lastima talvez por aquilo que a vida tem de frágil; e a consola por ser
expressão de tudo aquilo que ele admira e em que acredita.
Para finalizarmos, o título do poema se chama “Madrigal
melancólico”. Agora o que há no texto de madrigal e de melancólico? O texto é
um madrigal, não apenas pela forma poética (terna ou galante), mas também por
consistir num verdadeiro elogio à pessoa à qual se dirige. Já o melancólico,
porque aquilo que o eu lírico mais adora na pessoa – a vida – ao mesmo tempo
que o consola, ele lamenta, pois é ambíguo, forte e frágil.
Muito Obrigado pela analise, me ajudou muito ^^
ResponderExcluirA análise ajuda muito a entender e se apaixonar mais pelas palavras de Manuel Bandeira
ResponderExcluirCasinos Near Me - Dr.MD
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