JOGO DO CORAÇÃO

A melhor atividade está contida no peito.
Bate forte como as muitas ondas, debatem as rochas.
Pula por cima dos desejos, corre devagar no amor.
Joga para valer com a vida.
Não perde nenhuma, só cansa quando é maltrado.
Agora, onde descobrirei uma nova emoção?
Todas as peças do esporte se esgotou.
As veias da infinita comoção, atraiu as poucas seguranças da paz.
E não vá dizer que é coisa do destino.
Tudo na vida é um jogo, onde se cruza as sortes.
Lançam-se os sonhos na pista das alternativas.
O coração faz um exercício bem comodista. (Jeremias Silva)

domingo, 12 de outubro de 2014

Análise do Poema “Mulher ao espelho”, de Cecília Meireles

Mulher ao espelho

Hoje, que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.

Já fui loura, já fui morena,
já fui Margarida e Beatriz.
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.

Que mal faz, esta cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
Se tudo é tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?

MEIRELES, Cecília. Mulher ao espelho. In: Poesia Completa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973.

Vamos uma breve análise deste poema. A poeta Cecília Meireles escreveu sobre temas fundamentais, como a instabilidade da vida e a fragilidade do ser. Esta temática se apresenta no verso “Quero apenas parecer bela, /pois, seja qual for, estou morta”; em que o desejo de ser bela denota uma alusão nítida a fragilidade do ser humano, que busca demasiadamente a beleza mesmo que custe a vida “pois, seja qual for, estou morta”. Vejamos que a poeta anuncia de maneira peculiar a sua grande sensibilidade com os temas existenciais como a velhice e a morte. Nesse sentido, a musicalidade e a aparente espontaneidade de sua linguagem poética são fundamentais para que seus textos abordem temas existenciais de maneira suave e delicada.
O poema de Cecília Meireles faz parte da primeira fase do Modernismo. Observa-se que do ponto vista temático e formal, os poemas da autora afasta-se dos textos dominantes da primeira fase do Modernismo. Do ponto vista temático, o poema afasta-se dos textos dominantes na primeira fase do modernismo porque desenvolve a temática existencial. Do ponto vista formal, observa-se o emprego de versos rimados e metrificados, também incomuns nos textos da primeira fase.

É possível afirmar que a perspectiva do eu lírico sobre a sua própria experiência é melancólica, pois a voz que fala no poema diz que se sente morta e que tudo – o mundo, a vida, o contentamento e o desgosto – são fingidos, ou seja, falsos. Trata-se de uma perspectiva melancólica sobre a realidade vivida.

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